A invenção da Superquadra

Livro

Marcilio Mendes Ferreira
Matheus Gorovitz

O conceito de “super-quadra” como extensão residencial aberta ao público, em contraposição ao de “condomínio” como área fechada e privativa, foi inovador e revelou-se válido e civilizado.

Lucio Costa, 3/1/1985.

Com cinqüenta anos de idade, para além do Plano Piloto, Brasília já é composta por diversas realidades. As Superquadras residenciais são talvez um dos cenários urbanos mais bem-sucedidos e menos conhecidos daqueles que nunca habitaram a cidade.  Os blocos de Superquadras, sobretudo aqueles construídos nas duas primeiras décadas de existência da capital, acabaram por determinar decisivamente a paisagem urbana que, em harmonia com a vegetação abundante, constitui o habitat dos mais de quatrocentos mil moradores do Plano Piloto. O anonimato desta arquitetura silenciosa, entretanto, acabou por lançar um véu igualmente impessoal sobre as pessoas e instituições que os construíram.

O livro A invenção da Superquadra: o conceito de Unidade de Vizinhança em Brasília (Brasília : IPHAN, 2009. 528p.), elaborado por Matheus Gorovitz e Marcílio Mendes Ferreira, lança luz sobre estes personagens, dando a conhecer setenta e quatro projetos de edifícios residenciais realizados por trinta e dois arquitetos ao longo de quase um quarto de século após a construção de Brasília. Editada às vésperas do cinqüentenário da capital, a publicação contém, além de fotos e desenhos dos edifícios, dois ensaios introdutórios dos autores, uma coletânea de textos diversos sobre o urbanismo da cidade, bem como um conjunto de entrevistas com sete dos arquitetos pesquisados.

O ensaio introdutório de Matheus Gorovitz – A invenção da Superquadra –, originalmente publicado em inglês numa coletânea de Harvard (Brasilia’s Superquadra. Munich : Prestel, 2005. 108p.),  inicialmente elucida alguns precedentes conceituais da Unidade de Vizinhança de Brasília – caracterizada por quatro Superquadras, seu comércio e área institucional locais – para em seguida interpretá-la através princípios como de suas relações de proximidade, sua unidade, sua modernidade. Já Marcílio Mendes , no ensaio Instituições envolvidas no início da construção das Superquadras, enfoca os diversos órgãos públicos e institutos de pensão que encomendaram aos arquitetos Unidades de Vizinhança inteiras, contribuindo decisivamente para a conformação inicial de Brasília.

As entrevistas trazem preciosas informações históricas da cidade, narradas por alguns de seus próprios protagonistas: Jayme Zettel  – Diretor de Urbanismo na construção da cidade –, Eduardo Negri , Nauro Esteves, Milton Ramos – colaboradores de Niemeyer que desempenharam importante papel na construção da cidade igualmente em seus trabalhos individuais –, além dos também pioneiros Luigi Pratesi, José Leal e Luiz Pessina.

Os textos dividem-se entre a produção de Lucio Costa, em sete escritos,  e um segundo capítulo composto pela legislação de preservação da cidade (decreto distrital 10.829/1987 e portaria 314 do IPHAN), um artigo de Sir William Holford – presidente da comissão julgadora do concurso do Plano Piloto – apresentado em 1959 no Congresso Internacional de Críticos de Arte em Brasília; e o texto Superquadras, da urbanista Maria Elisa Costa. Além de constituir uma útil coletânea de documentos já conhecidos, como a Memória do Plano Piloto, este capítulo traz a público textos raros, como as Considerações em torno do Plano Piloto apresentadas por Lucio Costa no Senado Federal em 1974, quando da realização do I Seminário de Estudos dos Problemas Urbanos de Brasília.

O corpo do livro é composto pelos mais de setenta projetos de blocos de Superquadras, cada um apresentado em desenhos preparados para publicação e em  fotografias antigas e recentes, acompanhados por uma ficha descritiva da obra. Os autores selecionaram os edifícios segundo a disponibilidade de documentação que permita visualizar o projeto original sem descaracterizações posteriores, escolhendo projetos elaborados pelos arquitetos que participaram do início da construção de Brasília(1957/1970) bem como edifícios posteriores cujo caráter arquitetônico considera a integridade do conjunto urbanístico da Superquadra,  por serem concebidos com respeito às normas urbanísticas.

Além da obra fundadora de Oscar Niemeyer nas primeiras Superquadras de Brasília, nesse conjunto destaca-se a produção de Eduardo Negri, de quem constam doze projetos no livro – alguns construídos dezenas de vezes pela Caixa Econômica Federal.  A obra de Negri é identificada em grande parte pela fachada principal com pano de vidro de montantes verticais externos – característica miesiana que até hoje definem as feições de diversas Superquadras. É de seu antigo colaborador ainda, o arquiteto Marcílio Mendes Ferreira, um conjunto de oito diferentes projetos caracterizados pelo uso de pré-moldados de concreto, como na 206 norte – inteiramente projetada por Marcílio e Takudoo Takada.

O uso de pré-moldados também distinguiu a produção de Milton Ramos, responsável pelos conhecidos blocos Rabelo de três andares,  espalhados por toda a faixa das 400 sul (década de 1970). Estes edifícios, popularizados pelo o nome da construtora que os realizou, foram inteiramente construídos com peças pré-fabricadas, assim como o foi um edifício de seis andares (1972) projetado por Ramos na 203 sul. A concepção de planta racional e a lógica estrutural clara do arquiteto foram ainda postas em prática no Conjunto São Jorge (1967)construído originalmente para o Itamaraty na unidade de vizinhança da 407/408 norte.

Vizinho ao São Jorge outro grande conjunto de edifícios de destaque é aquele caracterizado pelas Superquadras 403/404 e 405/406 norte (1957), cuja autoria ainda permanece um mistério (Equipe de arquitetos do IAPC), os únicos elevados sobre colunas e que – conta o folclore local – teriam sido elogiados por Le Corbusier quando de sua passagem pela capital. O livro revela ainda os projetos de outros conjuntos de Superquadras inteiras homogêneas, concebidas segundo um projeto-padrão, como a 105 e a 305 sul (Hélio Uchôa, 1960), 308 e 114 sul (Marcelo Campello e Sérgio Rocha, 1959), 108, 307 e 308 norte (Manoel Hermano, 1980), 112 norte (Eliana K. Porto e Luiz Antônio C. Pinto, 1977) e 312 norte (Luigi Pratesi, 1970).

Parte do sabor do livro está também nas revelações dos trabalhos pouco numerosos mas cuidadosos  de arquitetos como Aldary Toledo, Aleixo Furtado, Celso Lelis, Elvin Dubugras, Glauco Campello, Hermano Montenegro, Jaci Ferreira Hargreaves, João Filgueiras Lima, Luiz Pessina, Nauro Esteves, Paulo Magalhães,  e todos os outros que estão ali selecionados. Essa extensa coleção de projetos, publicada pela 15ª Superintendência Regional IPHAN e apoiada pelo Núcleo Docomomo Brasília, contribui significativamente para o conhecimento e a pesquisa de nossa arquitetura. O livro, já esgotado, teve sua tiragem de 1.500 exemplares distribuídos gratuitamente para bibliotecas, faculdades de arquitetura, órgãos do governo federal e do GDF.

[resenha por Danilo Matoso Macedo]

referência

FERREIRA, Marcílio Mendes et GOROVITZ, Matheus. A invenção da Superquadra : o conceito da Unidade de Vizinhança em Brasília.Brasília : IPHAN / Superintendência do IPHAN no Distrito Federal, 2009. 528p.

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